Thursday, 2 December 2010

Diário de Viagem ao Vale do Jequitinhonha.


No dia 23 de novembro de 2010 saí em direção ao Vale do Jequitinhonha. Minha missão (pelo menos na minha cabeça) era pesquisar sobre a arte popular produzida no Vale e percorrê-lo todo, ou grande parte dele. Voei para Belo Horizonte e rumei em direção a Diamantina.


A cidade de Diamantina é realmente histórica e interessante, mas havia pouco de arte popular produzida no Vale do Jequitinhonha ai, apesar de Diamantina já ser parte do vale. Assim, depois de alguns dias em Diamantina rumei para Araçuaí, cidade realmente cravada no vale e de grande artistas populares. Lá encontrei Dona Lira, famosa por suas máscaras de cerâmica com influências índias e negras; Dona Zefa, uma das melhores contadoras de histórias que já encontrei na vida e uma famosa escultora em madeira; Marcinho Artesão, um pupilo de Dona Zefa e exímio ceramista e escultor em madeira; e Denilson, seu “aprendiz”, um rapaz com um talento imenso para várias artes, entre elas desenho, escultura e cerâmica.

No mercado municipal de Araçuaí encontrei os vários produtos típicos da região: o licor de manga, a cestaria utilitária, cerâmica utilitária (a maioria era de panelas e cofres em forma de porcos e galinhas) da área do Pasmado (a 10 km de Itaobim), os queijos produzidos nas zonas rurais do vale, requeijão, geleias, doces, rapaduras e vários tipos de cachaças, entre outras várias iguarias. Um verdadeiro paraíso para quem aprecia a culinária regional do vale. Uma das vendedoras, Rejane, me informou que os artefatos de cestaria (de palha e bambu) e as cerâmicas eram feitos pelo “povo da roça” de Araçuaí, não sabendo identificar os artesãos. Somente os grandes cestos de bambu tinham um autor certo: seu pai, que preferia a roça `a cidade.


Fui informado pelo dono da Pousada Otoni, onde fiquei em Araçuaí, que alguns dos ceramistas do Pasmado tinham problemas de alcoolismo e dependiam da venda da cerâmica para pagar pelo seu vício. O Pasmado é uma localidade onde um grupo de ceramistas se dedicam exclusivamente às atividades de fabrico e venda de artefatos cerâmicos utilitários e decorativos, sendo mesmo a maioria das peças utilitária. Ai se fazem os burrinhos para colocar plantas e os cofres em forma de galinha e porco.









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Vivenciado e escrito por Walace Rodrigues, Mphil em Estudos Latino-Americanos e Ameríndios e MA em História da Arte Moderna e Contemporânea, ambos mestrados da Leiden University (Holanda), e Licenciado Pleno em Educação Artística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.


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