Tuesday, 7 December 2010

As capivaras da Barra da Tijuca.



Dias atrás, passando pela Barra da Tijuca me deparei com uma cena que me pareceu bastante interessante: na porta de um shopping center, à beira de um canal, estavam uma capivara e um cavalo pastando, e pensei comigo mesmo:-Será que somente Cingapura é o trópico que deu certo?!

Ou seja, depois de visitar Cingapura duas vezes e me apaixonar por esta cidade-Estado, notei que nossa caminhada rumo ao desenvolvimento passa por um caminho diferente daquele de Cingapura! Lá tudo é extremamente civilizado e ordeiro, com edificações contemporâneas construídas ao lado de edifícios coloniais, parecendo esquecer sua situação geográfica tropical (algo que o calor de mais de 30 graus não deixa realmente esquecer!), com povos de diferentes partes do mundo vivendo em real harmonia. Tudo parece tão surreal para alguém como eu, carioca acostumado com o caos de favelas e prédios, da divisão racial entre negro e branco, entre a Patricinha e o Mauricinho do restante do povo de Ipanema, dos guetos urbanos cariocas, etc...

Sempre pensei Cingapura como sendo o país tropical que deu certo! E acho que não me equivoco em pensar assim...foram conquistados pelos ingleses que deixaram ali sua língua (a maisimportante do mundo, digam o que digam...) e uma vocação financeira inegável. A dimensão do país é ínfima, se comparado com o Brasil. O país está localizado na ausência do que um dia foi partede uma floresta tropical.

Sempre achei que a Barra da Tijuca era a nossa Miami, porém a capivara e o cavalo mudaram minha opinião: a Barra não é Miami e nem é Cingapura, a Barra é a maneira brasileira de ser tropical e, ao mesmo tempo, querer ser contemporâneo. Explico: o transporte público na Barra é péssimo, já que somente os pobres o utilizam. Em Cingapura o transporte público é bom e todos o utilizam. Se a praia parece aproximar a a Barra à Miami, o ar caribenho-latino de Miami a afasta da Barra. A Barra da Tijuca é única, boa e má! A capivara e o cavalo não nos deixam esquecer que estamos nos trópicos, e que por aqui as coisas tem que ser diferentes da Europa ou do restando dos EUA!

Não quero definir meu pensamento por um determinismo geográfico e climático, porém temos que ter a real imagem de quem somos e que podemos alcançar e almejar. Se a Barra encontrar seu caminho entre a construção de shoppings e prédios e a preservação do meio ambiente, e se o transporte público for bom para todos, com certeza a Barra poderá ser nosso exemplo de trópico que deu certo! Não somente uma Cingapura de cimento e sem o verde tropical extinto e nem somente uma Miami de prédios e praias.

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Vivenciado e escrito por Walace Rodrigues, Mphil em Estudos Latino-Americanos e Ameríndios e MA em História da Arte Moderna e Contemporânea, ambos mestrados da Leiden University (Holanda), e Licenciado Pleno em Educação Artística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.


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