Visitando a exposição Bem do Brasil, no Paço Imperial no Rio de Janeiro, me impressionei com o número de peças barrocas. Tal exposição pretendia mostrar “as múltiplas expressões materiais e simbólicas” de nosso país, como dizia o folheto. Havia peças de cultura popular, arte indígena, arquitetura moderna, enfim, uma vasta gama de objetos e imagens que nos definem como tendo uma Cultura Nacional própria. No entanto, o número de objetos barrocos, principalmente imagens de santos e santas, me deixou boquiaberto.
Eu sempre pensei (e esta exposição botou mais lenha na fogueira do meu pensamento) que o Barroco seria a forma mais forte de modelo artístico para definir a cultura brasileira (porém, não a única forma, claro!). Essa estilo de fazer arte, nascido na Itália depois do Renascimento e do período da Contra-Reforma, se espalhou pelo mundo latino com uma vitalidade gigantesca. Além disso, no caso brasileiro, se mesclou às fortes raízes africanas e índias. O apelo barroco à
dramaticidade, vista nas imagens dos santos, tomou nossos corações. Mesmo quando o mundo já era Neoclássico, nós continuávamos Barrocos!
Tivemos nossa forma específica de Barroco, desenhada pelas mãos do artista português Francisco Xavier de Brito, de Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa), mestre Ataíde, entre outros, e recontextualizada pelas classes menos abastadas. Esse drama demonstrado pelo Barroco de então pode ser comparado aos dramas das telenovelas brasileiras. Nosso gosto pelos dramas, pelas tramas emocionais, pelas curvas (também as de Niemeyer), faz parte de nós, está em nós, fala alto às nossas almas. Nós, brasileiros, somos assim!
Lembro-me de ir morar em Curitiba em 1991 e achá-la a cidade mais chata em que já vivi. O planejado demais, o organizado demais, não nos condiz completamente! Ainda mais, acredito que uma das categorias mais marcantes e atraentes, hoje em dia, dos países em desenvolvimento é esta “desorganização organizada” que um europeu do norte da Europa não conseguiria entender, porém it suite us! Isto vi na China, na Turquia, no Marrocos, no México, entre outros, países que encantam e não são extremadamente organizados! Na desorganização há espaço para criar, pois exige de nós uma flexibilidade que a dureza da ordem não nos dá.
Enfim, para terminar, o Barroco sim, este estilo artístico e de sentir, que floresceu na Europa entre o fim do século XVI até o XVIII, e no Brasil entre o início do século XVIII até o fim do XIX, se adaptou muito bem ao nosso gosto pelas emoções fortes e pela religiosidade que abrangia todos os níveis da sociedade. Criamos nosso próprio Barroco, com nosso ouro e nossos diamantes, tardio sim, porém nosso, próprio, único, como o analisou Germain Bazin. Foi necessário um europeu, um historiador da arte e conservador francês, nos dizer o que sentíamos...
Fotos de Walace Rodrigues.
Foto 1- Teto do Mosteiro de São Bento, Olinda, PE.
Foto 2 - Altar do Convento do Carmo, Olinda, PE.
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