Wednesday, 28 August 2013

*** PEDRAS EM POESIA ***



Pedras no Caminho

(de Fernando Pessoa)


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,

Mas não esqueço de que minha vida

É a maior empresa do mundo…

E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver

Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e

Se tornar um autor da própria história…

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar

Um oásis no recôndito da sua alma…

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um “Não”!!!

É ter segurança para receber uma crítica,

Mesmo que injusta…


Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo…

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No Meio do Caminho
(de Carlos Drummond de Andrade)

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra. 

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 Rio Vermelho 
(de Cora Coralina)


I

Tenho um rio que fala em murmúrios.

Tenho um rio poluído.

Tenho um rio debaixo das janelas

da Casa Velha da Ponte.


Meu Rio Vermelho


II

Águas da minha sede...

Meus longos anos de ausência

identificados no retorno:

Rio Vermelho – Aninha.

Meus sapos cantantes...

Eróticos, chamando, apelando,

cobrindo suas gias.

Seus girinos – pretinhos, pequeninos,

inquietos no tempo do amor.

Sinfonia, coral, cantoria.


Meu Rio Vermelho


III

Debaixo das janelas tenho um rio

correndo desde quando?...

Lavando pedras, levando areias.

Desde quando?...

Aninha nascia, crescia, sonhava.


IV

Água – pedra.

Eternidades irmanadas.

Tumulto – torrente.

Estática – silenciosa.

O paciente deslizar,

o chorinho a lacrimejar

sutil, dúctil

na pedra, na terra.

Duas perenidades –

sobreviventes

no tempo.

Lado a lado – conviventes,

diferentes, juntas, separadas.

Coniventes.


Meu Rio Vermelho


V

Meu Rio Vermelho é longínqua

manhã de agosto.

Rio de uma infância mal-amada.

Meus barquinhos de papel

onde navegavam meus sonhos;

sonhos navegantes de um barco:

Pescadora, sonhadora

do peixe-homem.


VI

Um dia caiu na rede

meu peixe-homem...

todo de escamas luzidias,

todo feito de espinhos e espinhas.


VII

Rio Vermelho, líquido amniótico

onde cresceu da minha poesia, o feto,

feita de pedras e cascalhos.

Água lustral que batizou de novo meus cabelos brancos.


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